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Resenha | Menina Má - William March

19:00Ayllana Ferreira

FICHA TÉCNICA

Nome: Menina Má;
Autor: William March;
Páginas: 274;
Gênero: Terror | Suspense;
Ano: 2016 (edição da Darkside)
Editora: Darkside Books;
Sinopse: Quando nasce a maldade? Nascemos todos inocentes e somos corrompidos pelo mundo à nossa volta? Ou será a maldade uma espécie de semente que carregamos dentro de nós, capaz de brotar mesmo na mais adorável das crianças? Há 62 anos, um livro de suspense psicológico faria com que milhões de leitoresdiscutissem apaixonadamente essa questão. Que livro era esse? Menina Má, mais um clássico que a DarkSide Books desenterra para os fãs do que há de melhor, e mais sombrio, na literatura mundial. Rhoda, a pequena malvada do título, é uma linda garotinha de 8 anos de idade. Mas quem vê a carinha de anjo, não suspeita do que ela é capaz. Seria ela a responsável pela morte de um coleguinha da escola? A indiferença da menina faz com que sua mãe, Christine, comece a investigar sobre crimes e psicopatas. Aos poucos, Christine consegue desvendar segredos terríveis sobre sua filha, e sobre o seu próprio passado também. Menina Má é um romance que influenciou não só a literatura como o cinema e a cultura pop. A crueldade escondida na inocência da pequena Rhoda Penmark serviria de inspiração para personagens clássicos do terror, como Damien, Chucky, Annabelle, Samara, de O Chamado, e o serial killer Dexter.

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“Será a maldade uma espécie de semente que carregamos dentro de nós, capaz de brotar na mais adorável das crianças?”

A Menina Má está na lista dos melhores livros que eu tive o prazer de conhecer em 2017. Escrito em 1954 pelo cronista William March, o cenário da obra condiz com o contexto da época, em que o machismo predominava na sociedade – mulher sempre vista como submissa – e o homossexualismo ainda era visto como uma aberração. Para mais, para os amantes da psicanálise, é a obra ideal. Ao longo de sua narrativa, o escritor se embasa na teoria Freudiana para construir magistralmente cada um de seus personagens, enriquecendo com análises de suas personalidades e atitudes.

Com frases longas, a história criada por March é fabulosa, além de ser a pioneira/ fonte de inspiração para as todas as franquias subsequentes com crianças assassinas. Bem, você se lembra do Chuck, da Estér, da Regan do Exorcista ou até mesmo do menino da Profecia? Todos estes personagens foram baseados na maquiavélica Rhoda Penmark. Mesmo tão novinha, a menina já demonstra a sua capacidade de manipulação e crueldade em prol de seus interesses particulares, estando disposta a matar qualquer um que entrasse em seu caminho. Bem, vamos começar do início.

“Depois de cair na água, ele tentou subir no cais. Eu não tinha mais por que bater nele, só que ele ficou dizendo que ia me dedurar. Então bati na mão dele para ele largar da beirada do cais. Mas ele não soltava, e isso comigo batendo forte, mãe; então tive que bater um pouco mais na cabeça dele, e depois um pouco mais nas mãos também. Bati com toda a força dessa vez; foi assim que meu sapato ficou sujo de sangue. Aí finalmente ele fechou os olhos e soltou a beira do cais como eu mandei. Mas a culpa foi toda dele, mãe. Ele não devia ter dito que ia me deduras, não é?” (p.171)

Cristine é uma mulher que se considera como comum: loira, bonita, com um bom casamento e um marido ideal. Não é muito inteligente, mas também não é burra. Para os seus vizinhos, ela tem a vida perfeita: o casamento perfeito, a família perfeita e a filha perfeita.

Ah, a jovem Rhoda, a filha exemplar e ideal. Organizada, inteligente e esforçada, fora a sua extrema educação. As pessoas de idade avançada a amam, afinal, como resistir a aquelas covinhas marcadas quando sorri, ou até mesmo àquela habilidade de sempre parecer estar falando a coisa certa, no momento certo. Ela é uma bonequinha repleta de boas maneiras, e o seu estilo tão peculiar?! Obviamente, será uma ótima dona de casa e mãe (palavras do autor, acho que era para ser um elogio). Contudo, coisas estranhas ocorrem quando Rhoda está perto. Fatalidades costumam a acontecer com as pessoas que a rodeiam, desde quedas brutais na escada a afogamentos inesperados.

É aquela literal frase, “o lobo vestido com pele de carneiro”. Com os seus oito anos, a protagonista é uma assassina nata. Depois de um afogamento misterioso de um de seus coleguinhas de escola em um piquenique, as provas começam a apontar para a menininha. Como Cristine irá agir ao descobrir que talvez, as coisas não sejam como parece… Basicamente, isto é o máximo que posso contar de “Menina Má” sem dar nenhum spoiler.

Após anos namorando a edição da Darkside da obra, no início deste ano, a tentação foi maior do que o meu autocontrole, e eu tive que adquirir o exemplar para a minha prateleira! As más línguas dirão que é consumismo, prefiro ver como tirar um livro de uma fria prateleira de uma livraria, para trazer para o calor do amor provocado pela minha. HUehauhuea’

Enfim, parando de enrolação, vejo-me pressionada a te dizer, querido leitor, que o início da obra é bem lento. Nada de mais acontece, e é bem parado. É meio que uma contextualização sobre o dia a dia da família, e da personalidade carismática da garota. Sendo sincera, é um livro parado. São poucos os grandes desdobramentos e as reviravoltas. Não é um terror explícito, se assemelha a algo mais psicológico, em que o suspense surge das entrelinhas, e não dos acontecimentos em si.

De todos os livros de terror que já li, que não são poucos, ouso dizer que esse é o com estilo mais diferente e mais interessante. É aquele clássico que te faz pensar e refletir, ao invés de receber uma história já mastigada e pronta. É uma história clichê – para nós que já vimos vários do estilo, mas acredito que na época deve ter sido algo inovador – que não é clichê. Tá, esta afirmativa ficou meio confusa. Bem, é o mesmo que dizer que é uma narrativa com elementos comuns, mas que são abordados de maneira inovadora e criativa.

O que o autor fez é indescritível. Ele conseguiu criar personagens reais, capazes de provocar os extremos do sentimentalismo: raiva ou amor. Uma história sólida, narrada de uma maneira cativante e diferente. E um enredo repleto de nuances e análises que o enriquecem ainda mais. Para melhorar ainda mais a situação, é essencial comentar sobre o final. (P.S: tentarei não dar spoiler).

Sabe quando um final é previsível, mas que mesmo assim você se sente espantado após sua conclusão?! Foi exatamente desta maneira que eu me senti. Eu imaginava aquele desdobramento, mas a forma que ocorreu foi muito melhor do que eu havia cogitado. Foi muito mais inteligente e perspicaz que qualquer sugestão que eu havia pensado. E é tão bom quando você sente que um autor conseguiu criar um final tão bom quanto o início e meio de sua história. Por que cá entre nós, não existe nada mais broxante do que bons livros que possuem péssimos finais…

Geralmente, quando leio uma obra que não é “tão popular”, gosto de perguntar em grupos de leitura o que as pessoas acham, para me servir como incentivo. Quando perguntei de “Menina Má”, a maioria das opiniões foi positiva, porém existiam leitores que qualificaram a obra como “muito marketing para pouco conteúdo”.

Particularmente, eu não concordo com este comentário e o acho meio sem nexo. Todavia, da mesma forma que gosto de dizer em TODAS as minhas resenhas, opinião é uma coisa relativa. Cada pessoa lê e qualifica uma obra de uma maneira, posto que a sua vivência/estilo são capazes de influenciar em seu gostar. Logo recomendo que você leia o livro, e crie a sua própria opinião. Conte-nos o que achou, a variedade de versões e “gostares” são fantásticas.

Por fim, gostaria de parabenizar a Darkside por mais uma edição maravilhosa. Como leitor, é incrível ver a dedicação de uma editora na criação de uma arte tão bela. Desde os elementos gráficos da capa as folhas do prefácio já são possíveis constatar o capricho desta com o seu público. As ilustrações e frases distribuídas no início e fim da obra são como um complemento da história protagonizada pela Rhoda, dando aquele clássico gostinho de quero mais.
Menina Má, de William March

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