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Resenha | Prosa & Panela - Tainá Vieira

14:35Henrique Machado

FICHA TÉCNICA

Nome: Prosa & Panela
Autora: Tainá Vieira
Páginas: 44
Gênero: Crônicas Brasileiras
Ano: 2017
Editora: Polaris
Sinopse: Prosa & Panela não é um livro de receita culinária e nem um manual de instrução de como cozinhar. É uma obra que reúne, de um jeito simples e franco, memórias da infância da autora e experiências literária, gastronômica e maternas, como se o leitor estivesse em uma conversa à tarde regada por um bom café. É, sobretudo, um livro de exercício de descoberta dos sabores e temperos da aprendizagem e do amadurecimento construídos no dia a dia. 


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“A arte da culinária é tão misteriosa quanto a arte da escrita: quem as pratica jamais se satisfaz, sempre está numa busca constante de novos sabores, texturas, cores.”


Vez ou outra me pego pensando no feijão e no arroz que minha mãe cozinhara poucos dias antes de me deixar voar sozinho. Tento reproduzir em minha boca o sabor do feijão escolhido a dedos, do arroz quentinho cujo cheiro invade meu corpo e o aquece, assim como o abraço de minha mãe. Tento reproduzir aquele gosto de casa, o tempero do amor de meus pais e o carinho com que eles me deixaram ir. A comida sempre esteve presente, é verdade. Contudo, talvez eu nunca tenha reparado, ao menos até agora.

Prosa & Panela é um livro com sabor, com cheiro e tempero. Tem sabor de casa, de intimidade, de prazer e de simplicidade. Cheira à café, à chá, à comida de mãe, de avó, à bagunça do filho, a sábado de tardinha, a almoço de domingo. É temperado com zelo, com dedicação, com paixão, pelas letras e pela culinária.

Em suas poucas quarenta e quatro páginas, suas palavras foram escolhidas a dedo, assim como escolhemos o feijão na hora de prepara-lo. Sua tamanha simplicidade nos leva a uma viagem saudosista, aos momentos de intimidade e aos mais variados tempos de nossa vida. Cada ponto, cada vírgula, cada frase, é um conjunto das melhores especiarias, e assim como as comidas guardam memórias, Prosa & Panela guarda uma vida.


“Acabo de concluir que cozinhar não é paixão, é um ato de amor. E o amor não precisa ser herdado de alguém ou ensinado por alguém, o amor simplesmente nasce em nós quando menos esperamos e vive dentro de nós, nos sustentando a cada dia.”


Tainá Vieira nos leva a descobrir a culinária junto a si. Mais do que isso, nos leva a descobri-la enquanto ser, enquanto existência, enquanto humana. Do seu amor pela culinária e pelas palavras surge uma viagem pelo auto descobrimento e pela construção de si mesma. De sua atenção e respeito pela comida que nos mantém vivos, surge o que se assemelha a um filme, uma sequência de frames banhados por sentimentos sinceros e autênticos. Uma viagem pela vida no interior e pela visão única da autora.

Naquelas páginas encontramos história, aprendizado, prazer, saudade e sensibilidade. São palavras singelas, mas carregadas de vivências e mais vivências. É um prato cheio de vida, de paixão e de adoração. É uma conversa com quem lê, mas também uma conversa consigo mesma.


“Para mim, escrever é a prosa que vem depois da panela farta, é a condensação, a eternidade, de todos esses ator de amor e troca.”


Enquanto a leitura avança foi, certamente, impossível não me deixar perder nas viagens mentais ao meu passado. Lembrei-me do café forte preparado por minha mãe às seis da manhã, do suflê que agraciava nossos domingos e do bolo de chocolate que nos colocava um sorriso no rosto.

Tainá nos mostra que a culinária é muito mais do que a seleção dos melhores ingredientes, e do prato que vai à mesa naquele sábado. A colunaria, assim como a escrita, é uma arte, e como arte ela é regada por experiências, por vidas, por sonhos, por paixões e por singularidades. Assim como a arte, a culinária demanda dedicação, esforço, cuidado e, claro, amor – assim como a escrita.

Prosa & Panela está longe de ser um manual culinário ou um tutorial de como se deve cozinhar. Naquelas quarenta e quatro páginas viajamos pela vida de Tainá, e por nossa vida. Naquelas páginas encontrei meu cheirinho de casa, fiquei com sede do abraço de meus pais e sorri com o sabor de uma boa leitura. É uma escrita simples, franca, e justamente por isso, bela. É como já ouvi dizer: a tarefa mais difícil é a de simplicidade. 





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